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Evento - Painel Mudanças Climáticas, tokenização e o mercado de carbono
Na semana passada tive a oportunidade de participar logo no primeiro dia do BB Digital Week, o maior evento de inovação e tecnologia do Centro Oeste, fazendo uma participação no painel "Mudanças Climáticas, tokenização e o mercado de carbono", falando como especialista de tokenização e blockchain da BlockC(https://blockc.com.br/).
Durante o painel, discutimos sobre as tecnologias que prometem tornar o mercado mais íntegro, transparente e mais valioso. O uso de IA, machine learning, georreferenciamento e tokenização tem o potencial para alcançar essa promessa, mas é necessário cuidado e muita ponderação para garantir a entrega de valor.
No final do painel e ao longo da semana, algumas pessoas sugeriram que eu resumisse e compartilhasse as discussões com a comunidade. Era uma boa desculpa para voltar a escrever, dessa vez no meu site, Corp Insider, onde espero manter um blog ativo sobre cripto, tecnologia e inovação.
Então, vamos ao ponto central, com alguns dos destaques que expus durante o painel.
Como garantir ganho de valor na inovação com tokenização
Ativos digitais, sejam nativos de blockchain ou derivados de tokenização (RWA e similares), tendem a apresentar alta liquidez, rastreabilidade, automação (via contratos inteligentes) e baixos custos operacionais.
No painel, utilizamos o exemplo da obtenção de dados usando a junção da IA com o georreferenciamento. Eles tipicamente serão utilizados em teses – como um PDD para projeto gerador de créditos de carbono - e usando blockchain, existe a oportunidade de ganho de valor com rastreabilidade, assegurando a origem e integridade dos dados.
Modelos de IA diferentes podem trazer resultados variados sobre uma mesma área florestal; assim, a documentação do processo de obtenção e auditoria de dados se torna um caso interessante para tokenização, não apenas gravando o processo e a garantia de origem dos dados, mas as diferentes versões de resposta desses modelos, fortalecendo a metodologia utilizada na geração dos ativos, posterior à tokenização.
Oportunidades que podemos criar a partir da tokenização de ativos ambientais
O que realmente agrega valor ao se tokenizar um ativo ambiental? Há diversas possibilidades, deve-se também considerar o modelo de negócio de para chegar a formas especificas de se explorar a tecnologia, mas exploramos no painel algumas oportunidades concretas:
- Melhor distribuição dos ativos ambientais, permitindo acesso a diferentes clientes e redes(Sistemas legados e redes blockchain).
- A possibilidade de replicar pacotes de operações quase como um rollup para registros oficiais, tanto internacionais quanto nacionais, como os da Verra e da Cetip da B3.
- O uso de tokens em automações com contratos inteligentes, possibilitando o desenvolvimento de derivativos, operações estruturadas, sistemas de royalties para pagamentos de serviços ambientais e a criação de produtos financeiros vinculados a investimento e crédito.
- Facilidade para operações de DvP (Delivery versus Payment) usando o ativo.
- Aumento de confiança com a inclusão de dados e evidências que caracterizam os ativos ambientais em suas formas digitais.
A tokenização de ativos ambientais pode abrir um leque de novas possibilidades. Um exemplo prático que discutimos foi o projeto da B3 em parceria com a ACX (AirCarbon Exchange) Brasil – empresa da qual a BlockC é acionista – que utiliza tecnologia blockchain para estabelecer um registro público para projetos de carbono, incluindo o uso da metodologia brasileira PSA Carbonflor, criada pela ECCON Soluções Ambientais para as Reservas Votorantim.
Cuidados Essenciais em Projetos de Tokenização de Carbono
Em projetos de tokenização, o propósito precisa ser questionado antes de qualquer execução. Estamos tokenizando para responder a demandas internas, talvez para rastreabilidade e controle de processos, ou buscamos um valor efetivo e tangível no mercado? A resposta a essa pergunta pode determinar o tipo de legado que esse projeto deixará e o risco de criar uma dívida técnica ao longo do caminho. Para tecnologias que mal começam a firmar os alicerces e implementações padronizadas – como blockchain e tokenização –, cada escolha, cada compromisso, constrói uma base que pode se tornar em uma vantagem no momento de se adaptar ou um labirinto de complexidade que é uma desvantagem cheia limitações futuras.
É preciso ponderar se o esforço necessário para tornar a implementação "à prova do futuro", integrada a redes e tecnologias emergentes, sejam elas reguladas – CBDCs e o DREX estão chegando – ou em ambientes DeFi, realmente gera valor no longo prazo. A interoperabilidade e a durabilidade de uma solução não são, por si só, virtudes; devem servir a um propósito concreto e viável. Talvez, em vez de buscar uma solução definitiva desde o início, seja mais prudente desenhar um plano de evolução tecnológica que permita atualizações e adaptações conforme o cenário se transforma.
E há um ponto crucial que precisa ser ressaltado: a tokenização em si não cria direitos, tampouco estabelece propriedade no sentido legal. Qualquer iniciativa que almeje agregar valor por meio de tokens precisa estabelecer ligação clara com as atuais fontes de direito , como leis e contratos formais, que são tão antigos e sólidos quanto o próprio conceito de propriedade. O contrato inteligente pode automatizar operações, mas a fundação jurídica ainda pertence ao contrato tradicional.